quarta-feira, 24 de março de 2010

O ENCANTO NOSSO DE CADA DIA


Ainda bem que o tempo passa! Já imaginou o desespero que tomaria conta de nós se tivéssemos que suportar uma segunda feira eterna?
A beleza de cada dia só existe porque não é duradoura. Tudo o que é belo não pode ser aprisionado, porque aprisionar a beleza é uma forma de desintegrar a sua essência. Dizem que havia uma menina que se maravilhava todas as manhãs com a presença de um pássaro encantado. Ele pousava em sua janela e a presenteava com um canto que não durava mais que cinco minutos. A beleza era tão intensa que o canto a alimentava pelo resto do dia. Certa vez, ela resolveu armar uma armadilha para o pássaro encantado. Quando ele chegou, ela o capturou e o deixou preso na gaiola para que pudesse ouvir por mais tempo o seu canto.
O grande problema é que a gaiola o entristeceu, e triste, deixou de cantar.
Foi então que a menina descobriu que, o canto do pássaro só existia, porque ele era livre. O encanto estava justamente no fato de não o possuir. Livre, ele conseguia derramar na janela do quarto, a parcela de encanto que seria necessário, para que a menina pudesse suportar a vida. O encanto alivia a existência...Aprisionado, ela o possuia, mas não recebia dele o que ela considerava ser a sua maior riqueza: o canto!
Fico pensando que nem sempre sabemos recolher só encanto... Por vezes, insistimos em capturar o encantador, e então o matamos de tristeza.
Amar talvez seja isso: Ficar ao lado, mas sem possuir. Viver também.
Precisamos descobrir, que há um encanto nosso de cada dia que só poderá ser descoberto, à medida em que nos empenharmos em não reter a vida.
Viver é exercício de desprendimento. É aventura de deixar que o tempo leve o que é dele, e que fique só o necessário para continuarmos as novas descobertas.
Há uma beleza escondida nas passagens... Vida antiga que se desdobra em novidades. Coisas velhas que se revestem de frescor. Basta que retiremos os obstáculos da passagem. Deixar a vida seguir. Não há tristeza que mereça ser eterna. Nem felicidade. Talvez seja por isso que o verbo compartilhar nos ajude tanto no momento em que precisamos entender o sentimento da tristeza e da alegria. Eles só são suportáveis à medida em que os compartilhamos...
E enquanto compartilhamos, eles passam, assim como tudo precisa passar.
Não se prenda ao acontecimento que agora parece ser definitivo. O tempo está passando... Uma redenção está sendo nutrida nessa hora...
Abra os olhos. Há encantos escondidos por toda parte. Presta atenção. São miúdos, mas constantes. Olhe para a janela de sua vida e perceba o pássaro encantado na sua história. Escute o que ele canta, mas não caia na tentação de querê-lo o tempo todo só pra você. Ele só é encantado porque você não o possui.
E nisto consiste a beleza desse instante: o tempo está passando, mas o encanto que você pode recolher será o suficiente para esperar até amanhã, quando o passaro encantado, quando você menos imaginar, voltar a pousar na sua janela.

Lessyane Bonjorno

O PECADO ORIGINAL


18-03-2010 - Genesis 2, 17

O pecado original é a representação de todo o sofrimento humano, o qual surgiu na origem dos primeiros homens e que vem sendo, desde então, transmitido de geração em geração.
Estudar o sofrimento humano já é algo bastante complexo mas, tratar de um pecado hereditário, é ainda mais.
“Por que justiça eu deveria sofrer por um pecado que eu não cometi?” Esta talvez seja a pergunta que tira toda a lógica desta ideia. Por isso é um assunto tomado de polêmica e intrigas.
Na doutrina cristã o pecado original procura explicar, pela existência do mal, toda imperfeição humana e o seu sofrimento. O livro de Gênesis, cuja autoria foi atribuída a Moisés pela tradição judaico-cristã, conta que os primeiros humanos, representados por Adão e Eva, foram advertidos por Deus que, de todas as árvores do paraíso, “somente o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal não poderia ser provado”, cuja consequência para quem o fizesse seria a morte. No entanto, tendo sido tentada pela serpente, Eva provou deste fruto e convenceu Adão a também provar e, pela desobediência, a morte se instalou no homem e assim eles foram, sumariamente, expulsos do paraíso.
Ainda não se tem uma interpretação objetiva e definitiva a respeito desta doutrina, já que foi escrita de forma metafórica e não há em toda a escritura sagrada o esclarecimento do que consiste este pecado.
Tem-se, como conceito cristão, que a morte de Jesus, mesmo Ele não possuindo pecado algum, ocorreu para a remissão do pecado de origem que é de todos. E que, Maria foi gerada livre de qualquer pecado, conforme o dogma, da Imaculada Conceição, atribuído pela Igreja Católica Romana. Por este motivo, ela é chamada “cheia de graça”.
Gênesis fala de um pecado do conhecimento, ou pecado da ciência, conforme a tradução da escritura. Mas, analisando ainda mais especificamente, considerando o termo “fruto do conhecimento do bem e do mal”, pode-se também dizer do pecado do julgamento.
Pensar num pecado certo, inevitável e imutável seria a negação do perdão de Deus e da salvação oferecida por Ele. Por certo não foi esta a mensagem transmitida pela Escritura. Mas então, o que poderia significar este pecado? E como agir para evitar que os seus efeitos impeçam a busca pela salvação e pela “vida em abundância” que Deus nos dedicou?
Bem, se ainda não há esclarecimento, creio que podemos especular...
1 - Se considerarmos que o alerta do pecado original diz respeito ao conhecimento e à ciência, talvez o texto faça menção ao agir do homem tomando por base a condição humana, de acumular conhecimento e ciência.
Ao homem, Deus permitiu a razão, ou seja, a capacidade de pensar, processar informações e acumular conhecimento. A ciência é atributo humano e, por ela, muito se pode realizar. Porém, a realização desta ciência só produz bons frutos se balizada pela sabedoria, que é atributo exclusivamente divino.
O conhecimento e a ciência não libertam, a sabedoria sim. Porque o conhecimento e a ciência podem mostrar uma falsa verdade que só se revelará falsa pelas consequências indesejadas. Assim, não basta acumular conhecimento pelo uso da razão se não há a sabedoria para o bem utilizar destes recursos.
Para que a sabedoria possa realizar-se na vida, o homem deve estar em plena sintonia com Deus, porque ela não consiste em algo que possa ser acumulado. A sabedoria utilizada hoje não surtirá efeito amanhã.
Assim pensava Santo Agostinho, que acreditava que o dom da ciência foi dado ao homem para que dependesse exclusivamente dele a sua própria salvação.
O apóstolo Paulo já disse: “a letra mata, mas o espírito vivifica”... “ainda que eu falasse a língua dos anjos e dos homens, sem amor eu nada seria … e ainda que tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria”. É o mesmo que dizer: ainda que eu tivesse todo o conhecimento e toda a ciência, sem sabedoria, nada seria. Porque a sabedoria se manifesta pela prática do amor, cuja fonte é Deus.
Por esta ótica, pode-se afirmar que agir somente conforme o conhecimento e a ciência do homem, sem a sabedoria de Deus, consiste num pecado de origem. É iniciar uma caminhada erroneamente, portanto, para um destino igual inconsistente.
Adão e Eva passaram a agir conforme os seus conhecimentos, deixando de lado a sabedoria, por isso, passaram a se sentirem nus e sem a coragem necessária para estarem face a face com Deus.
2 – De outro modo, se considerarmos que seja um pecado de julgamento, o pecado original pode alertar sobre o sofrimento consequente do uso do julgamento, pelo homem.
O julgamento humano é o pai da mágoa e do rancor, que afligem, porque é de onde surgem a incompreensão e a intolerância e, por ele também, ocorre a corrupção da essência divina que habita no homem.
Jesus alertou que “quem julgar será igualmente julgado”.
Deus criou o homem e os seus sentimentos, mas do uso indevido do julgamento autônomo, o homem inventou o ressentimento, ou seja, a mágoa.
Julgar é permanecer preso no passado; preocupar-se, no uso do conhecimento e da ciência, é permanecer preso no futuro; sendo que o “paraíso” está no agora.
Talvez esteja nesta alusão a afirmação de que o homem e a mulher foram expulsos do paraíso após cometerem o pecado original.
Neste contexto, Francisco de Assis foi o modelo, de quem fez valer a morte de Jesus, para a remissão do pecado original. Aproximou-se muito dos animais e quase se tornou um deles em pureza, considerando que abdicou-se do uso da própria razão e do julgamento humano, deixando assim, prevalecer a sabedoria de Deus em todas as suas atitudes.

Nunes

sábado, 20 de março de 2010

CASINHA BRANCA


Procurei minha vida toda, por explicações! E ainda vivo, por isso espero...
Lembro de minha infância procurar por Deus.
Na adolescência, não me lembro de procurar por isso acho que me perdi.
Neste período que vivo, procuro e vejo que realmente estava perdido, mais ainda procuro...
Procuro como todos um Deus que se fez homem e morreu por mim! Pagou minhas malditas faltas com esse próprio Deus...
Foi uma pequena casa, suja e cheia de defeitos, que ao longo de minha vida construí...
Hoje vendo de fora desta construção, começo a planejar esses reparos. Vejo paredes insólitas, pois o cimento era de baixa qualidade, pintura por fazer, pois eu era imaturo, dava valor em outras coisas.
No momento que Deus nos concedeu a graça de partilhar nossas vidas, para um bem comum, Quando conheci a história deste pequeno santo minha vida transformou-se em uma pela mansão... Marcos Coutinho servo inútil do Senhor!


Paz e Bem meus irmãos.
Marcos Coutinho

ARMADURA DO CRISTÃO


Efésios 6, 10-17
Ser cristão é uma decisão daquele que deseja, acima de tudo, agir. Mas não agir simplesmente baseando-se no quotidiano da vida e com finalidades voltadas à sobrevivência ou à manutenção material deste mundo, e sim, agir de acordo ao que foi ensinado pelo Cristo, Jesus.
Ser cristão é agir baseado na grandeza do humano e pelo humano; viver e acreditar na boa nova com a fé, esperança e amor que ela própria nos ensina.
E para isso é preciso coragem para lutar e vencer qualquer que seja a força que nos afasta desta decisão, como os vícios, por exemplo, que envolvem e corrompem.
Acreditar que a boa nova não representa uma vida diferente da que foi criada por Deus, mas sim a consciência do que significa viver do jeito que Deus propõe. E assim, há duas formas de ser cristão: uma, vivendo a boa nova tendo Jesus como referência para qualquer atitude ou palavra e, outra, além de viver a boa nova, transmiti-la a quem ainda não a viveu.
Porém, qualquer que seja a forma de vida que não seja esta proposta, urge em tentar desviar o cristão deste caminho e, principalmente pelos vícios, levá-lo a acreditar que a vida espiritual sucumbe ao material.
A vaidade, o apego e a soberba são alguns desses vícios que, entre outros, alojam-se como parasitas na vida de muitos. Além dos vícios do corpo que o torna dependente fisiologicamente.
Mas a essência divina permanece em todos, até naqueles que não acreditam que há um Pai Criador que espera o retorno desses seus filhos que ama.
Francisco descobriu isso quando se permitiu, mesmo que pelo sofrimento da carne ou da mente, eliminar qualquer que fosse o vício que nele estivesse impregnado. Ele desejou eliminar tudo e qualquer que fosse o motivo que pudesse afasta-lo da vida cristã e, se de forma radical ou não, conseguiu. Porque vestiu a Armadura do Cristão.
Não lutou contra pessoas e sim contra os vícios que envolvem as pessoas, ou seja, as “potestades”, tanto que, até aquele que resistia ferozmente às mudanças de Francisco, seu pai, Pedro Bernardone, não foi alvo das suas lutas, Francisco apenas abdicou-se da sua herança e devolveu o nome ao seu pai para poder continuar livre a nova vida escolhida. Continuou sim, sendo filho de Bernardone, lutou apenas contra os procedimentos que considerava obstáculos para viver a boa nova.
Esta é a mensagem de hoje, que não lutemos contra pessoas, pois são todos criaturas de Deus, porque, se assim o fizermos, estaremos lutando contra o Deus Criador.
Se considerarmos que pessoas são imperfeitas, teríamos também que considerar que a imperfeição da criatura reflete a imperfeição do criador.
Nunes

ESPINHO NA CARNE


O Apóstolo Paulo foi um escolhido que entregou sua vida à igreja de Cristo.
Sua história revela uma drástica conversão: - de dizimador de Cristãos, Paulo transformou-se num dos mais importantes apóstolos do Evangelho e, conseqüentemente, de perseguidor a perseguido. Sofreu na própria carne esta conversão, pois quando decidiu se entregar a pregar o Evangelho, assumiu a continuação das tribulações de Cristo, tendo sido apedrejado, humilhado e foi, por cinco vezes, açoitado pela pena das quarenta, menos uma, chibatadas... algo que poucas pessoas suportariam.
Não se sabe exatamente o que representa o termo “espinho na carne” porque não há explicação nas escrituras sagradas acerca disso, somente diversas especulações.
Diz-se tratar de uma enfermidade na visão, dificuldade em falar, uma forma de paralisia, depressão ou epilepsia. Há quem afirme que esta expressão representa a aflição pelo trato com seus inimigos ou visitação de demônios, já que o Apóstolo ilustra os “espinhos” com o termo: “mensageiros de Satanás a me esbofetear”.
Se o “espinho” representa qualquer uma das hipóteses especulativas acima, muito mais dolorosos foram os martírios que Paulo sofreu na pregação do Evangelho... o que seria então este “espinho”?
Porém, decifrar o termo não se faz essencial enquanto que o próprio Paulo reconhece que o sofrimento o faz humilde e que a resposta de Deus satisfaz... “Basta-te a minha graça”... e assim, gloriou-se nas suas fraquezas permitindo que o poder de Cristo repousasse sobre ele.
Para um homem que viveu conversão tão intensa como a de Paulo talvez seja forte também a tendência a se gloriar diante das revelações que recebia do Senhor, tanto que disputou dons com os outros apóstolos, o que o levaria à tentação da soberba.
Glórias... somente a Cristo... esta foi a resposta que recebeu e concebeu.
A sabedoria de Deus nos mostra que o “espinho na carne” de Paulo foi necessário para que sua palavra chegasse pura aos nossos corações, motivo este que devemos também suportar os nossos “espinhos” com paciência, alegria e fé.
Nunes

HUMILDADE E SOFRIMENTO


“Quem não tem nada, tudo tem. Não é só uma questão de semântica, mas sim uma condição divina”
Pobreza... penúria... submissão... pequenez... modéstia...
Palavras que flutuam pela leveza do próprio conteúdo, qual seja, o nada. Palavras ocas? Nem isso, são apenas palavras desprovidas até da função que tem as outras palavras que é representar algo, pois representam o nada, ou “nadas” de liberdade. Somadas, resultam na “Humildade” que, pela lógica matemática, também é nada, pois nada somado a nada é nada.
Paciência... pesar... padecer... suportar... conter...
Também palavras, mas extremas em peso e dor. Palavras carregadas e fonte da tristeza que, somadas, multiplicam-se em peso resultante em “Sofrimento”.
Estariam ligadas estas palavras com naturezas tão distintas? Humildade e Sofrimento... Onde estaria o fio que as tornam irmãs? Ou primas... ?
Por que ou para que estariam ligadas? Qual o propósito disso tudo?
Bem, para tentar compreender, iniciemos o nosso estudo pela Humildade.
Como seres limitados em compreensão, nós, criaturas, necessitamos de representações que se fazem parecer espelhos para melhor compreendermos o objeto pela imagem. E assim, tudo deve ser representado por um nome, mesmo que este se torne mais importante do que o próprio objeto.
Mas damos nomes ao nada também, como a ausência de calor, que chamamos de frio; a ausência de luz, que chamamos de trevas, ou a ausência do sim, qual chamamos de não. Assim, também a Humildade, que também é a ausência de alguns sentimentos humanos.
Se aprendemos que despojar da vaidade, que tanto incomodou o autor do livro Eclesiastes, é uma das fontes da paz; se o orgulho é tão veemente combatido porque nos afasta de nós mesmos e, consequentemente, de Deus; se o apego nos faz escravos daquilo ou daquele a quem nos apegamos; não seria a palavra Humildade a representação da ausência disso tudo? Creio que sim.
A Humildade pode ser a inexistência de algo, por isso a sua paradoxal silhueta. Se digo que sou humilde, não o sou enquanto afirmo. Se digo que aquele ou aquela é humilde, não sou verdadeiro, pois não conheço o coração daquele ou daquela.
Portanto, não há aplicação prática para a palavra Humildade a não ser como uma representação meramente didática.
As pessoas que conhecemos às quais poderia caber este adjetivo, o rejeitam, pois esta marca traz consigo um caráter de elogio... mais um paradoxo...
Ao cabo deste pensamento, quem se despoja de uma vaidade, está sim valorizando a própria essência. Como um ator de teatro que, antes de encenar, despoja-se do próprio nome para assumir o nome do personagem. Deste despojamento, brota a essência verdadeira do ator, este que terá o seu nome resgatado com louvor no final da peça, não por ele, mas pelos expectadores.
Despojando-se do orgulho, abrirá um grande espaço onde caberão pessoas e pensamentos valiosos, amenizando assim o sofrimento da solidão.
Do desprezo ao apego, nasce a riqueza daquele que passa a ter ao seu dispor toda a criatura e a atenção do criador. É abrir espaço para a fertilidade e abundância, eliminando assim o sofrimento da miséria.
Passando agora ao sofrimento, seria ele um indicativo da prática do apego?
Pode-se concluir que todos os sofrimentos são frutos da incompreensão e do apego, porém, nem todo mal, mas balizadores de um caminho.
Durante a caminhada de Francisco, ele tinha o sofrimento como um amigo precioso que sinalizava o caminho para chegar ao Pai; caminhava livremente e, ao se deparar com o sofrimento, abraçava-o e mudava de direção. Ou seja, ele não renunciava ao sofrimento, somente buscava identificar os seus contornos e se desviar assim do apego.
Quem abraça o sofrimento é capaz de abraçar a própria “cruz”, que é a vida de cada um, pois é nela que, além da alegria, mora o sofrimento.
Jesus falou: “Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. Aquele que tentar salvar a sua vida, perdê-la-á. Aquele que a perder, por minha causa, reencontrá-la-á”. (Mt 10, 38-39)
Nunes

DEVEMOS FLORESCER ONDE FOMOS PLANTADOS


Cada um permaneça na profissão em que foi chamado por Deus.
Eras escravo, quando Deus te chamou? Não te preocupes disto. Mesmo que possas tornar-te livre, antes cuida de aproveitar melhor o teu chamamento
."
I Cor 7, 20

A vida de cada um segue na direção na qual cada um acredita. Os dons são recebidos por todos, porém nem sempre são exercidos como profissão ou dispostos ao serviço para o outro.
A necessidade contemporânea tem transformado os artistas de Deus em meros produtores de riquezas, provedores de um ciclo material sem limites em quantidade, mas, embora ignorado, finito no tempo; representando o motivo de muitas frustrações vividas e corrompendo o amor que foi plantado nos seus corações. E a profissão, que seria o meio mais importante para se exercer esses dons, tornou-se circunstancial porque o que importa é a renda renda financeira auferida e não a satisfação do bom serviço oferecido.
Mas, assim vivemos: surdos... mudos... cegos... Sim, inválidos por não querer ouvir... falar e enxergar.
Assim ficamos enquanto desprezamos os sinais que Deus nos envia insistentemente, pedindo e esperando que ouçamos para receber a “vida em abundância” que Ele nos preparou.
Ele nos chama para um banquete que tem como convite a compreensão e o discernimento, ou seja, o uso da sua própria sabedoria.
Compreender que a vida em abundância e o banquete estão e sempre estiveram dentro de nós mesmos e que nada que buscamos externamente satisfaz a nossa verdadeira necessidade para viver o que chamamos felicidade... discernir as mensagens verdadeiras que foram espalhadas pelo nosso Pai querido, mas que estão em meio a tantas outras falsas mensagens, nos dá o caminho. Porque a vida é uma dádiva.
E isso tudo é gratuito, Ele não nos cobra o convite, só convida e espera que aceitemos. Talvez por isso mesmo é que ficamos tanto tempo sem dar atenção ao divino chamado, porque não estamos acostumados a receber coisas preciosas sem ter que pagar o preço por elas. Mas, quando aprendemos a ouvir, falar e enxergar o que há de verdade, passamos também a aceitar e nos sentir merecedores deste amor gratuito além de descobrir o maravilhoso paradoxo que move esta vida que encanta. Descobrimos que o sabor do banquete só é percebido quando oferecemos das delícias que estão dentro de nós ao outro... que a abundância de vida transborda quando oferecemos da vida que temos em nossos corações.
Assim, descobrimos também que não é necessário abandonar ou mudar de profissão para exercer os dons que estão guardados, podemos sim, florescer onde fomos plantados, ou seja, podemos continuar vivendo na mesma família, na mesma profissão, tendo os mesmos amigos e na mesma rotina, basta mudar a forma como ouvimos, como falamos ou como enxergamos.
O chamado de Deus é para uma mudança interna, uma simples conscientização de tudo o que estamos acostumados a sentir e que ainda não estão baseados na verdade. Mas, que, quando compreendido, tudo muda.
Nosso querido Francisco viveu isso profundamente. Apesar do que vimos da sua história, do que ocorreu externamente a ele, da passagem da vida confortável à austera e feliz simplicidade, da “matéria” ao “espírito” e a tantas outras, foram todos reflexos da sua mudança interna.
Vê-se que Francisco não mudou de cidade, de amigos ou de família, algumas pessoas se afastaram dele, mas por opção delas; ele não mudou sequer de profissão, porque, mesmo enquanto não tinha ainda a consciência convertida para a pobreza, seu trabalho era vestir o outro com os tecidos que vendia. Mas a sua mudança interna foi devastadora quando ouviu. O chamado de Deus tocou-lhe o peito feito um furacão, transformando, em um imenso campo arado, a sua terra que antes invadida por pragas, transpondo pronto para um novo plantio.
Sejamos os artistas de Deus, criemos obras de arte e coloquemos a assinatura do nosso Pai num canto visível, mas façamos... se não na profissão, então nos encontros que temos enquanto a exercemos... ou no convívio da família... entre os amigos. Não importa em que meio, dispor os dons a serviço do outro é aceitar o convite para participar de um belo banquete e assim, aceitar viver em abundância.
Acredite!
Nunes

FRANCISCO E O LEPROSO


Confraria Franciscana Irmão Sol - 22-10-2009


“Quando pedimos paciência para Deus, não esperemos que Ele nos dê esta paciência, e sim, oportunidades e ocasiões para que deixemos brotar em nós essa paciência”

Francisco de Assis tinha repugnância de pessoas com lepra e, por isso, tentava se distanciar delas quais, à época, andavam com um sino amarrado nas suas vestes justamente para sinalizar a sua presença e dar oportunidade aos sãos de se afastarem.
As pessoas mais próximas de São Francisco sabiam desta aversão porque realmente era algo que o atormentava, tanto que passava mal se permanecesse próximo a um deles.
Certa feita Deus colocou em seu caminho um homem tomado pela lepra e pediu que Francisco o beijasse.
Irmão Leão sugeriu que ele desviasse daquele homem, mas Francisco respondeu que se isso o fizesse, outro leproso o encontraria... e outro... e outro... porque era parte da sua vida e necessária para o seu crescimento. Por isso, continuou ao encontro daquele homem doente e ofereceu o beijo. As chagas do homem tomavam toda a sua boca, mas mesmo assim, Francisco o beijou e o apanhou no colo.
Seria esta uma cena comum da história de um homem que desejou ser santo, não fosse a mensagem que transmite a todos nós, de que é necessário que prestemos atenção às situações e pessoas que passam a fazer parte da nossa vida e que trazem consigo a oportunidade que precisamos para aprender um pouco mais e assim subir um degrau a mais na caminhada rumo ao Pai.
Deus não nos tira o poder da opção, de desviarmos dos nossos “leprosos”, mas coloca-os no nosso caminho para com eles aprender algo necessário.
Por outro lado, não se trata de um ferimento às Leis de Deus se nos desviar de situações que nos fazem mal, mormente àquelas que nos levam ao pecado, como os vícios, por exemplo.
No Evangelho de Marcos (cap 9, v 47), Jesus ensina com exatidão: “se os seus olhos te fazem pecar, arranque-os...”.
Mas há que se distinguir os vícios das oportunidades. São meios parecidos, mas com objetivos extremamente distintos e de fácil observância: - Afaste-se de tudo o que o distancia do Pai, mas abrace com amor tudo aquilo e aqueles que o fazem aproximar dEle.
Como o cego de Jericó que tirou seu manto de vícios para seguir Jesus, Francisco, para assim também o fazer, abdicou-se de uma vida confortável e repleta de vícios para servir somente e, no ápice da sua caminhada, evitava até os pequenos prazeres, os quais considerava também vícios da carne. Porém, considerando que algo ou alguém o aproximava de Deus, beijava com amor.
É esta a diferença que buscamos perceber, ter a consciência preparada pela sabedoria de Deus e assim aceitar com amor os “leprosos” que nos são especialmente preparados para nos ajudar a caminhar em direção ao Pai querido.
Talvez no primeiro momento, essas faces podem nos parecer repugnantes, mas se as aceitamos vão nos tornando agradáveis.
Enfim, só para acalentar os corações que passam a se preparar para receber estes desafios, devemos lembrar que Francisco, ao aceitar algo que até então lhe causava repulsa e repugnância, beijando aquela pessoa doente e levando-a em seu colo, notou que no decorrer do caminho ela se tornava cada vez mais leve e, ao abrir o manto que a cobria, percebeu que havia sumido ficando apenas com o manto. Após, prostrou-se no chão e chorou muito, olhou para o irmão Leão e, entre as lágrimas que lavavam seu rosto, disse: “Eu levava Jesus no meu colo”.
Nunes

ENCONTRO COM DEUS


Confraria Franciscana Irmão Sol – 15-09-2009

Absurda a idéia que vivemos neste mundo para crescer, ganhar dinheiro, envelhecer e morrer. Sabemos que o sentido da vida é muito mais do que isso e que algo muito maior está envolvido nesta odisséia.
Não vejo outro sentido senão a vontade de trabalhar no projeto do nosso querido Pai, nesta vida tão efêmera e tão cheia de conflitos e alegrias.
Esta convicção não significa que temos que renunciar às nossas conquistas e metas, porém, que as nossas questões pessoais não estejam na frente em prioridade.
“Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo” (MT 6,33).
Porém, para trabalhar neste imenso projeto, necessitamos de recursos físicos e não físicos, ou seja, precisamos de ferramentas que possibilitem executar o trabalho.
Consideremos a nossa vontade de trabalhar associada ao infinito, que foi oferecido por Deus como recurso necessário para cada filho que queira engajar neste trabalho.
É fato que tudo o que existe está dentro do infinito, toda a criação, todos os nossos sentidos, a nossa vida, o ar que respiramos, o chão que pisamos, a inteligência, enfim, tudo está ao nosso alcance e disponível para realizar o trabalho, inclusive o tempo.
Pensar, no entanto, no infinito como possibilidade, é algo que vai além da nossa capacidade inteligível de processamento. A idéia de infinito não cabe entre as limitações da nossa inteligência, porque, pela nossa própria natureza - natureza de criatura - só acreditamos e enxergamos naquilo e aquilo que se pode marcar por um início e por um fim.
Vamos então pensar no infinito como substantivo que ele é, sem pensar na sua estrutura, e assim concluir a idéia. Vamos lá...
Você acredita que faltaria algo que não estivesse dentro do infinito?
Teria Deus colocado tudo dentro do infinito e deixado esses recursos à nossa disposição para sairmos por aí trabalhando, evangelizando e glorificando o seu nome?
Você se considera apto a utilizar a sua inteligência para tomar todos esses recursos e seguir o seu caminho evangelizador?
Com certeza, NÃO.
Lamento informar, mas o infinito não está completo.
Mas, antes de revirar este baú e procurar o que falta, convido você a fazer um encontro com o nosso Pai querido.
Quero pedir que você se ajoelhe por um instante e faça uma pequena oração, não precisa ser algo muito elaborado ou repleto de palavras para dar conteúdo à sua conversa com Ele, só que você abaixe a sua cabeça e se lembre que a glória é só dEle e, que você é criatura diante do seu criador.
A idéia é que, neste pequeno momento em que você está em contato com Deus, pense em qualquer atitude que tenha tomado recentemente e analise ela sob o ângulo dos seus pensamentos, ou seja, do que você, como homem ou mulher, acredita ser correto.
Em seguida, tome esta mesma atitude e coloque-a nas mãos de Jesus e pense em como Ele a tomaria.
Pode ser que Ele fizesse da mesma forma que você fez, que o caminho escolhido por Jesus para esta decisão seja o mesmo escolhido por você. Porém, nem sempre isso acontece, porque há uma grande diferença entre as atitudes baseadas na inteligência humana e as que são norteadas pela sabedoria de Deus.
Mas, não pense que é uma tarefa fácil estar sempre sintonizado com Jesus e agir de acordo com a sabedoria de Deus; estamos sempre desejando nos condenar por atitudes mal pensadas ou por aquelas que, a princípio tínhamos certeza que era correta, mas que passado algum tempo, mostrou-se inválida.
Por isso, são importantes os encontros que temos com o nosso criador.
São Francisco percebeu muito claramente esses encontros e quis, permanentemente estar com Ele. Francisco sabia que necessitava deste contato permanente para poder ser santo e, pela sua morte física, se transformar em infinitamente mais do que um, para trabalhar no projeto do nosso Pai. E foi o que fez.
Talvez isso explique o porquê de Francisco necessitar abreviar a sua vida que, a princípio, pensamos ser uma atitude insana.
Tinha pressa em trabalhar e por isso não perdia o contato com o Pai, tanto que rejeitava qualquer prazer que tirasse a sua atenção deste objetivo, até com atitudes radicais como sentir o sabor de um alimento, no qual jogava cinzas para evitar.
Ele sabia que estar na presença do Pai é poder receber a sua sabedoria como solução e orientação para as suas atitudes, porque é ela que conduz tudo e todos à verdade.
Porque a sabedoria de Deus é o combustível que faz funcionar os recursos dispostos para os seus servos no trabalho evangelizador, é ela o que não está contido no infinito. É propriedade de Deus e está com ele sempre, sendo que sem ela, nada funciona como deve funcionar e, se algo se move por outra força, com certeza não estará no caminho da VERDADE.
Só que o nosso tanque de sabedoria é muito pequeno, ele possui autonomia para apenas um dia. Por isso, não dá para armazenar sabedoria... não dá para caminhar sem Deus.
Não sei por que, mas Deus quer estar conosco todos os dias, e é por isso que ele nos deu um tanque tão pequenininho, para colocar todos os dias um pouquinho da sua sabedoria e assim fazer funcionar o nosso motor.
Talvez porque Ele nos ama demais e, assim, deseje olhar os nossos olhos todos os dias...!
Nunes

quinta-feira, 18 de março de 2010

TRIBUTO A MARIA


12-11-2009


O amor, por Pe. Fábio de Melo, contempla a eleição por alguém que tira o outro do comum e o transmuta para o sagrado. É assim, da mesma forma, como os hebreus foram eleitos por Deus como seu povo, tirados da escravidão comum do Egito e levados à Terra Sagrada, tornando-os sagrados e, eleitos, elevados pelo amor.

Eleitos pelo amor somos sagrados e, junto com os anjos e santos, consagrados.

Maria, mulher comum, ainda cheia de graça pela própria pureza, ainda menina, tornou-se sagrada quando eleita a mãe da salvação.

Simplesmente Maria, a frágil menina, que possuía em seu coração o livre arbítrio para dizer não, porém elegeu o sim.

Um sim que não se desintegrou com o nascimento de Jesus, mas o sim do compromisso de continuar o plano de Deus até mesmo depois da sua morte.

Maria do Sim.

Maria que renunciou a si mesma diante de um abismo ao qual não conhecia, apenas confiou e mergulhou, levando consigo apenas a coragem de ser mãe... assumiu a sua missão e deixou tudo o mais para o rastro.

Maria do Paradoxo.

Fragilidade em forma de força e força em forma de fragilidade. Alfa e Ômega já estavam em seu ventre no dia do sim. Maria foi eleita, mas antes da resposta, olhou para dentro de si e soube do que era capaz já que sabia que o sim é eterno.

Maria do Mundo.

Anunciada pelo anjo, Maria conversava com Deus. Já estava no seu coração a convicção do poder do Pai no Filho quando, depois, pediu que Jesus realizasse o primeiro milagre nas Bodas de Caná. Mas foi mãe aqui, no mundo. Mãe que amamentava, cuidava, buscava sua cria quando perdida, acalentava e acolhia. Esposa de um homem santo, José. 

Companheira. Nasceu e foi levada nos braços pelos anjos de Deus.

Maria que se surpreende.

Encontrando seu filho que, com doze anos, havia se desgarrado, surpreendeu-se por estar pregando para os doutores. Naquele instante, que também se eternizou por uma profunda reflexão, um sentimento de orgulho talvez tenha sido transposto pelo medo do que viria, lembrando-a que a sua vida e de seu filho não teria a paz e a normalidade de uma família comum, porque profecias já riscavam o futuro dando conta do que seria.

Maria Amiga e Fiel.

Manteve sua força com Jesus, seu filho, enquanto assistia o doloroso espetáculo da sua humilhação e morte... dor e sofrimento... aceitou e compreendeu o momento em que se fundiam Homem e Deus, tendo que sufocar, dentro de si, o seu instinto de mãe que, no Calvário, gritava: “Salve o meu filho querido das garras do sofrimento”
... porque ela acreditou.

Maria Líder.

Quando Jesus já não estava de corpo ao redor dos seus apóstolos, Maria permaneceu a esperá-los e os acolheu, inconsoláveis e desorientados pela ausência do Mestre. Ela manteve-se forte na determinação do que acreditava, reuniu novamente os apóstolos e mostrou-lhes como seguir no caminho que estava por ser iniciado.

Maria Eterna.

O Sim extremo e eterno de Maria, que foi para mim oferecido, inspira a força do meu sim; o seu despojamento diante das coisas do mundo me faz confiante e, da sua paz e acolhida, me faz filho, porque esta Maria também é a Maria da Esperança.

Maria Mãe.

Mãe de mim, ela me cuida, chora as minhas tristezas e se compraz com a minha alegria. Mãe que chora também de amor pelas suas crias e que adota até aqueles que não conhecem seu filho. Maria que está sempre alerta e aparece sempre quando seus filhos precisam de força... Maria Presente.

Maria... Maria... única Maria de muitas... de Fátima, de Lourdes, de Aparecida, de Guadalupe... e muitas outras...

Maria de Nazaré.

Em oração, eu posso e devo buscar a Maria Mãe. Aquela que está pronta para me acolher e ajudar a me levantar sempre que caio, quando sinto que a minha cruz pesa além da força humana ou além do que eu acredito que posso... confiança para a hora da minha morte. Maria Amada e Necessária... Mãe querida, jamais esquecerei quando Jesus olhou nos meus olhos, pelos olhos do seu apóstolo amado, e disse: “Aí está a sua Mãe”
Desejo a justiça e a caridade de Simeão, assim também a alegria de contemplar seu filho ainda nos seus braços.

Maria Mãe, pelos olhos da minha mãe, “ensina-me a ser escolhido” e mostre-me o caminho da sua fé.

Nunes

PAZ, ABISMO E FRANCISCO DE ASSIS


Marev – 13-03-2010

O mundo todo observa que muitas pessoas trabalham e, enquanto não, pensam no trabalho; buscam relacionamentos seguros, estabilidade financeira e crescimento pessoal. Outras, por fim, buscam crescimento espiritual e, enquanto caminham, vão percebendo que, em verdade, passaram a vida tentando recuperar a PAZ que estava perdida... e que sempre esteve dentro do próprio coração.

É como na passagem bíblica em que os dez leprosos pediram para que Jesus os curasse, explicado no Evangelho de Lucas, 17,14: - quando Jesus pediu que eles caminhassem e se mostrassem ao sacerdote, “enquanto eles iam andando, ficaram curados.

Ocorre que a PAZ, esta grande riqueza, se faz despercebida e então acaba se tornando objeto de aposta quando o mundo sugere um jogo. Arriscamos a nossa PAZ como se fosse um simples objeto e, acontece que, às vezes, a perdemos neste jogo. E é neste instante momento em que se sobrevém a tristeza e o sofrimento.

E então, quando percebemos que a PAZ está perdida, buscamos desesperadamente recuperá-la. Porém, pode demorar muito para isso acontecer, além de requerer um grande esforço pessoal.

Vou me permitir citar o caso de um amigo que esteve buscando a PAZ no acúmulo de bens. Tinha um emprego onde era muito bem remunerado e já havia acumulado, para a sua posse, muitos bens; o suficiente para não mais precisar trabalhar, no entanto, o que possuía era sempre pouco e então buscou meios ilícitos para adquirir mais.

Apostando a sua PAZ, perdeu. Foi investigado pela polícia, sofreu inquérito e foi preso, além de perder o emprego.

Quando o visitei na sua prisão, o que ouvi do coração daquele homem foi uma frase mais ou menos assim: “- o que eu desejo para este momento é simplesmente possuir uma pequena e simples casa de madeira, um fusca na garagem, a presença dos meus filhos, o carinho da minha esposa e a alegria do meu cachorro”.

A música Casinha Branca, composta por Gilson e Joran, ilustra esta história e muitas outras que seguiram o mesmo sentido da tristeza e sofrimento.

Francisco de Assis esteve, em certo momento, se sentindo entre dois abismos. Mergulharia ele em um dos dois, pois o espaço em que estava era uma base em que cabia apenas o seu pé. Sentiu-se só quando tinha que decidir para que lado cair e chegou a afirmar que se entregaria a qualquer um que o chamasse, sendo Deus ou o diabo, tamanha desorientação. Foi quando ouviu apenas uma voz dizendo: “ Salte !”...

O Irmão Leão, seu fiel companheiro, dedicou a vida para encontrar Deus. Num dos seus dias, deparou-se com um eremita para o qual ele perguntou se sabia o caminho para Deus. O eremita respondeu que há um único abismo onde o Irmão Leão teria que mergulhar; no interior dele encontraria Deus. Quando Irmão Leão hesitou, o eremita recomendou: “se não queres mergulhar, casa-te e não fale mais em Deus”.

Penso que Deus esteja nesta PAZ que está em cada coração, que temos o desejo inconsciente de reencontrar. Mas quase sempre, utilizamos caminhos que não nos levam a Ele.

Jesus sugere um único caminho, o Evangelho. Um único abismo que leva para a presença de Deus e que permite a recuperação da PAZ perdida pelo caminho.

Bem aventurados os puros de coração, porque verão Deus!Mateus 5, 8.

Ele nos ensina que falar do Evangelho é muito bom, mas, viver o Evangelho é caminhar para Deus e para a PAZ.

É verdade que não se trata de uma garantia de que não haverá dor para aquele que desejar praticá-lo, mas haverá PAZ para solucionar os problemas que forem surgindo enquanto se caminha. “São numerosas as tribulações do justo, mas de todas o livra o Senhor.


Salmo 33,20 (ou 34,20)
Mergulhar neste “abismo” é um ato de fé e de coragem, mas que vale
a pena!

É o caminho de quem deseja encontrar Deus e é forte suficiente para permanecer face a face com Ele.

Nunes