Nesses dias em que toda a Terra comemora o nascimento de Jesus, o Salvador do povo de Deus, o
clima de Natal perfuma os corações com a nostalgia da criança que
espera ansiosa o seu presente.
É um foco trocado, porque, se comemoramos o nascimento do Salvador, o motivo de tudo isso só pode ser a Salvação e não a troca de presentes. Talvez
este desvio seja o resultado de uma má interpretação da tradição
que parece ter começado com a visita dos Magos ao Jesus recém-nascido,
quando levaram a Ele os presentes: incenso, ouro e mirra. Mas, cada presente
simbolizou exatamente a minha participação no plano de salvação, algo da boa receptividade com aquele que chegara
para trazer a boa nova. Os presentes não eram o foco daquele
momento, eles simbolizavam somente.
Mas, de fato, sob todos os apelos comerciais que circundam a data do nascimento de Jesus, há um plano de salvação muito antigo que vem se realizando perene e soberano desde que Deus se revelou aos Seus filhos.
Nele, os profetas sinalizavam a vinda de um Messias que, como Cristo, significa “ungido”, ou seja, aquele
que está com Deus, conversa com Ele e compreende Suas mensagens, não
pelo ouvido, mas pelas palavras ouvidas pelo coração. É aquele que
ouve a voz de Deus e enxerga Sua face no rosto dos filhos deste Pai amoroso.
O ungido se deixa envolver pela sabedoria de Deus e vive esta bênção abundantemente.
Os Magos eram pessoas
ungidas. Se eles perceberam que aquela era a estrela que anunciava o nascimento
do Messias e indicava a direção e o local onde Ele estava, é
porque em seus corações Deus falava e eles compreendiam.
Então, se pensarmos
profundamente neste sentido, vamos descobrir que um dia também fomos ungidos. Aquilo que chamamos vulgarmente “intuição”
talvez seja a fagulha que restou deste “diálogo divino”, que se
perdeu.
Acreditando na própria inteligência, um dia, nós pensamos ser autossuficientes, assim criamos e fomentamos a distância
que nos separa do Deus criador, passamos a viver baseados somente na
própria inteligência e, fazendo e desfazendo, passamos a agir conforme o nosso próprio julgamento.
Não precisa dizer que
o paraíso também foi se desaparecendo na distância a partir disso.
Não era esta a
intenção de Deus quando fomos criados, Ele desejava que
compreendêssemos a vida e a vivêssemos em abundância, aceitando a
Sua perfeita sabedoria de Criador.
Mas, como Deus criou
a vida usando o Seu amor, pelo mesmo amor Ele também estabeleceu um plano de
resgate para os filhos amados. O interessante é que Deus nomeou
agentes do Seu plano os próprios filhos para serem trazidos de volta para o Seu seio. Cada um para uma função
certa neste grande empreendimento. Porém, sem tirar-lhes o livre arbítrio. Isso significa que cada um pode aceitar ou não tomar parte na sua tarefa.
Desde Abraão, nesta linda história, muitas pessoas que se tornaram conhecidas
pelo SIM dado ao chamado do Pai como: - Moisés, que ajudou a libertar o
povo hebreu do Egito; - os profetas que anunciaram a vinda do
Messias, entre eles, os maiores: Isaías, Jeremias, Ezequiel e
Daniel; - Jonas que, com o seu SIM "amarrado e amargo", levou a mensagem de Deus a Nínive; - aqueles que com sua história se tornaram exemplos nesta
participação, pelo modelo ou contraste, como Davi e seu filho
Salomão; - Maria que, com o seu SIM, gerou o Salvador no seu ventre; - José que, cuidando de Maria, também com seu SIM
ofereceu proteção para preservar a vida de Jesus e para que Ele
pudesse crescer com segurança; - João Batista, que anunciou aquele
que iria batizar no Espírito; - os apóstolos que tiveram a tarefa
de publicar a boa nova, muitas vezes, às custas das próprias vidas;
- os santos e mártires que, como modelos de fé, fortaleceram a Igreja de Jesus; - e muitos outros que participaram e participam neste
plano, que é de Deus.
Como o próprio Jesus que,
como homem, também possuía o livre arbítrio para se negar a
oferecer-se como cordeiro, mesmo sob a extrema “agonia de morte”,
conforme Ele mesmo descreveu no momento em que seria entregue, e
sabendo de todo o sofrimento que lhe esperava ainda sob a humilhação da
tentação, reforçou o seu SIM.
Em 2007, durante o encontro de primeiro anúncio do grupo Cristi, o amigo e
irmão, Mauro Menegazzo, dizia de uma conversa que ele teve com o Pe
Júlio, em que perguntou ao sacerdote se Jesus poderia ter desistido
da Sua missão. O padre respondeu que sim. Esta ideia foi para mim um
choque, porque o meu pensar não compreende uma realidade sem a
possibilidade de salvação. Pensei no que seria de mim se Jesus
negasse o SIM... E se Maria também o negasse?
É que o livre arbítrio
precede de um SIM ou de um NÃO.
Jesus homem, Maria, os profetas, os apóstolos, santos... são pessoas que,
assim como você, estão participando do grande projeto de Deus.
Pessoas que poderiam responder com um NÃO, mas elegeram o SIM.
Da mesma forma, você
pode escolher participar deste trabalho ou não; oferecer os seus
dons ao que foram dados ou usá-los para benefício próprio.
Acreditar no amor do Pai misericordioso e participar no Seu plano de salvação é como ser um grão de milho preso à espiga que tem nela reservado um lugar para cada grão. Todos juntinhos cumprindo cada um com sua tarefa, mas fiel ao todo.
A espiga tem sido
debulhada e muitos grãos estão espalhados por aí enquanto alguns
continuam fiéis. O espaço de cada grão permanecerá vago, não
será ocupado por outro. Mas, pense bem... se você não estiver na espiga,
estará onde?
Nunes