quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A BÊNÇÃO DE DEUS




Lembro que, ainda criança, eu aprendi a pedir a bênção do pai, da mãe, padrinhos e entes próximos. Uma cena típica que acontecia todos os dias quando eu acordava ou quando recebia a visita de um ente mais velho, as mãozinhas como conchas fechadas, esperando guardar a preciosa pérola, e o semblante pedinte: “bença pai, bença mãe, bença tio..."

Confesso que, nessa época, não compreendia muito bem o sentido desta bênção quando eles transferiam o pedido a Deus, dizendo: “Deus te abençoe”. Parecia algo como “eu não sou competente para abençoar você, mas Deus o é, portanto, que Ele o abençoe...”

De fato essas pessoas jamais foram competentes, porque a bênção só pode ser provida pelo Criador, não pela criatura. Criaturas não têm o poder de vida porque são simplesmente criaturas, não produzem, somente recebem vida.

Mas, elas podem ser, naturalmente, mensageiras da bênção de Deus. Essas pessoas que não escolhi, mas que Deus escolheu para mim, para anunciar Sua bênção, são justamente aquelas portadoras do Seu puro amor diante do meu olhar. São pessoas que decidiram me amar, por isso são como canal pelo qual passa a bênção; como o cabo elétrico que conduz a energia pulsante do amor de Deus do qual eu necessito todos os dias.

Acostumei-me então a pedir a bênção, mas, talvez porque o pedido acabou se tornando mecânico de muito se repetir a cena, em poucas vezes em que solicitei este efeito divino eu desejei saber em que consiste esta coisa invisível, imperceptível no tato e inaudível.

Certa vez eu discuti com meu pai e, num ato adolescente e impensado, disse a ele que nunca mais eu voltaria a lhe pedir a bênção. Tolo que fui, pois fechei a porta do meu coração para o que é divinamente essencial. Porque a bênção não é a mera e simplesmente manutenção da vida, ela é TUDO isso.

Sempre que São Francisco era, de certa forma, amaldiçoado pelo seu pai Bernardone, pedia que um mendigo o abençoasse. Para tanto, oferecia-lhe parte das esmolas que recebia. E, no seu cumprimento “PAZ E BEM” ele desejava, em outras palavras, que a bênção de Deus se fizesse.

Sabemos também da disputa dos irmãos Jacó e Esau para receberem a bênção do pai Isaque, porque sabiam do valor deste tesouro. Gen 27:19-34.

Na parábola da pérola de grande valor, dita por Jesus por Mateus, percebe-se a dimensão do seu valor para quem a encontra: “o reino dos céus é semelhante a um negociante que buscava boas pérolas; encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha, e a comprou.” Mateus 13:45-46.

A bênção do Criador da vida é a certeza de prosperar, não só e, talvez, neste mundo material perceptível aos olhos e ao tato, mas essencialmente no único mundo sólido e permanente que há, o espiritual. E não só para trazer luz ao meu coração, mas também para purificar tudo o que há à minha volta, tornando até o que é material em bênção.

A bênção de Deus é como água que molha e que se espalha envolvente por onde não haja diques de contenção, é semente, transformadora, é vida em formação. Não é como pérola, é madrepérola, mãe da vida.

Ela é fonte de alegria e paz, a presença do próprio Deus Criador por amor à vida.

Mas, seja atenção, cada filho deste Pai misericordioso tem a sua. A bênção é, como diz o amigo Game, “como o cinto de segurança: - é pessoal, de cada um."

Desejando falar da bênção de Deus, enviei e-mail para frei Antonio, um querido profeta que conheci num retiro de silêncio mês passado, pedindo um escrito para enriquecer esta idéia que ora suscito. Diga-se que ninguém respeitou o silêncio tão solicitado naquele retiro; talvez porque todos se sentiam tão bem na casa do Pai que de tão livres o silêncio não foi importante no momento.

Eis que recebo a seguinte resposta: “digite a palavra bênção no Google que terá uma idéia clara a respeito do tema que necessita...”

Achei no início que a resposta foi bastante mal criada. Mas, aos poucos fui compreendendo o que significou; exatamente isso, a bênção de Deus é intransferível, é pessoal.

A bênção é dada a todos, mas a minha foi feita sob medida, só se encaixa no meu corpo, ou melhor, no meu espírito e em mais nada, por isso neste caso não faria sentido usar a bênção que não foi para mim e sim para o frei... bênção eu já tenho, basta usá-la.

Portanto, meu irmão, não deseje a bênção do seu irmão, olhe para a sua e utilize-a sem moderação. Porque, como diz o próprio frei: "ninguém vai para o céu de carona".

Que Deus continue te abençoando sempre.


Paz e Bem


Nunes

2 comentários:

  1. Nossa! Que texto mais lindo e rico de bençãos.... "ninguém vai ao céu de carona" - perfeita colocação. Cada um faz sua parte e garante seu lugarzinho na condução ao Altíssimo. Perfeito Texto. Parabéns.

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  2. Érica, obrigado por visitar o blog da Confraria. O seu comentário valoriza imensamente essas idéias.
    Nunes

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